Para quem ainda tinha dúvidas se a governança realmente valoriza as companhias e ainda temia que os bons resultados inicialmente encontrados em função das boas práticas fosse uma maré passageira, os mais recentes estudos não deixam dúvida. Pesquisas feitas com as empresas que efetivamente foram negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo nos anos 2003 e 2004 tiram o ponto de interrogação do título. Segundo os trabalhos acadêmicos mais recentes, o respeito aos acionistas já oferece com certeza uma recompensa, que é o aumento do valor da empresa. Um dos trabalhos, de Alexandre di Miceli, do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa – IBGC –, revela que uma mudança do pior para o melhor nível de governança resulta em um aumento de 85% a 100% na capitalização de mercado da companhia. A capitalização corresponde ao valor da cotação multiplicado pelo número de acionistas. É um indicador que representa o valor das empresas listadas. Por conta disso, é possível concluir que a evolução das práticas de governança também leva ao aumento do mercado como um todo.
No começo, o temor era de que as evidências encontradas em outros mercados entre as boas práticas de governança corporativa e o aumento do valor da companhia não se repetissem no Brasil. Os estudos locais que avaliaram os efeitos das primeiras evoluções das empresas brasileiras, rumo a um melhor relacionamento com os acionistas, foram animadores. No entanto, a maior parte dessas primeiras pesquisas só analisavam a correlação entre alguns aspectos isolados de governança e seu impacto na geração de valor para a companhia, diz Miceli.
Agora, diz o especialista, começa a se consolidar a primeira leva de trabalhos que mostra uma relação concreta e forte entre a boa governança e a valorização da companhia. Um dos primeiros estudos que mostraram essa ligação foi o do professor Ricardo Leal, da Coppead UFRJ, que elaborou um quadro no qual listava as principais boas práticas e verificou que cada ponto que a empresa cumpria equivalia a um aumento de 6,8% no valor de mercado das ações.
A pesquisadora Flavia Padilha também acaba de concluir um trabalho de mestrado pelo IAG PUC-Rio no qual buscou verificar quais seriam os benefícios obtidos com a adoção de boas práticas de governança corporativa no caso das empresas brasileiras. Importante ressaltar que o estudo da pesquisadora toma como base dados de cerca de 200 empresas listadas e negociadas em bolsa no ano de 2004, ou seja, já em um momento mais recente. Os principais focos da tese foram justamente a relação entre boas práticas e o aumento do valor, por um lado, e a redução do custo do capital, por outro. O trabalho enfatizou a transparência dada pela companhia e as características do Conselho de Administração, tomando como parâmetros as recomendações presentes nos códigos de boa governança.
Os resultados para essa amostra de empresas, em 2004, apresentam uma relação estatisticamente significante entre o valor das companhias e os aspectos relacionados às práticas de governança como, por exemplo, a boa comunicação com o mercado por meio do Índice de Governança Corporativa – IGC –, diz Flavia. Com relação ao custo de capital próprio, no entanto, a análise quantitativa dos dados foi pouco conclusiva, completa.
Apesar disso, segundo a pesquisadora, é possível encontrar indícios da redução do custo de captação de recursos no mercado e pode-se verificar que os novos aspectos trazidos pela bom tratamento aos acionistas minoritários influenciam a dinâmica empresarial no Brasil. Novas formas de governança, especialmente as decorrentes do controle acionário compartilhado têm ocupado espaço crescente no país, diz a pesquisadora. Isso faz com que a discussão da governança passe a ser mais relevante porque os diversos controladores precisam de mecanismos para monitorar o desempenho dos gestores da companhia.
Para Flavia, o capital de risco tende a se tornar uma fonte de recursos não apenas menos onerosa mas também mais adequada do ponto de vista da governança financeira, para financiar os investimentos. Existe uma correspondência entre as estruturas de governança corporativa e financeira decorrentes das mudanças sofridas pelas empresas na economia brasileira, disse Flavia, acrescentando, no entanto, que o assunto deverá ser tema de outros estudos.
Em seu estudo, o pesquisador di Miceli, do IBGC, procurou testar a influência dos mecanismos de governança agrupados e não isoladamente. Para isso, procurou testar a hipótese em diversos modelos econométricos. Ele analisou 154 companhias não financeiras que tinham liquidez em 2002.
Segundo Miceli, a maior parte dos trabalhos anteriores procurava averiguar se o valor de mercado das empresas era determinado por mecanismos internos ou externos – de governança. Ao analisar os aspectos isoladamente, não se podia verificar uma influência isolada de cada prática, sendo que algumas podem ter sinergias, explica Miceli.
O especialista não analisou, nesse trabalho, o impacto da governança nos custos de captação, mas esse é o tema de um outro estudo, que já está em fase final. Estou analisando não apenas o custo de capital próprio mas também de terceiros, diz. Uma parte da pesquisa avalia a relação entre a qualidade da governança e os ratings de crédito da companhia, por exemplo, conta ele. Intuitivamente, a relação com custo de capital menor parece existir, mas terei em breve um embasamento mais concreto sobre isso, conclui.
Fonte
RIO, Catherine Vieira do. A governança compensa? Disponível em: <http://www.realtrader.com.br/forum/indice.pl/read/11450>. Acesso em: 06 jan. 2006.
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